orgasmo adiado
Agora que as malhas do tempo se alargaram e finalmente, passados tantos meses, consigo circular pelas águas do mundo com relativa liberdade, fiz aquilo que prometi a mim mesmo desde Setembro. Fui a Sevilha.
Em Setembro queria ver uma obra de Louise Bourgeois que pertence à colecção do Centro Andaluz de Arte Contemporânea, Cell (Arch of Hysteria). Trabalhei sobre esta artista, li os seus textos, conheci as obsessões que utiliza como fonte criativa, a vida confrontou-me com o peso dessas obsessões, que de repente não se referiam apenas a obras de arte mas à Vida, àquilo que une todos os seres humanos de forma silenciosa. Portanto, pareceu-me óbvio que rumasse à obra que, fisicamente, se encontrasse mais próxima.
Mas agora, em Abril, a obra estava guardada no armazém. Havia a excelente retrospectiva de Daido Moriyama e a provocadora mostra do "grupo" Fluxus, mas de Bourgeois nada, apenas a certeza de uma presença oculta.
Regressado a casa, não me resta senão ver uma reprodução em livro e ler o comentário anexo: "A cela com a figura do arco de histeria lida com a dor emocional e psicológica. No arco de histeria, o prazer e a dor fundem-se num estado de felicidade. O seu arco - o crescimento da tensão e o aliviar da tensão - é sexual. É um substituto do orgasmo, sem qualquer acesso ao sexo. Ela cria o seu próprio mundo e é muito feliz. Em nenhum lado está escrito que uma pessoa nestes estados esteja a sofrer. Funciona como uma cela autoconstruída onde as regras da felicidade e da inquietação nos são estranhas.
A tábua de ferro representa o alisar das dobras, a diminuição da tensão à medida que o sono se aproxima. Há o grande sono, que é a morte, e o pequeno sono que se segue ao orgasmo."