levante

textos sem sentido e outros

sexta-feira, setembro 30, 2005

segunda-feira, lisboa

De preferência, entra-se na cidade por uma ponte. O terminal dos comboios desemboca numa avenida. Do lado esquerdo do passeio há uma feira que parece ter parado no tempo; as marcas de ruína fazem parte da decadência do lugar e seduzem os espíritos melancólicos. Apetece deambular, mas a fome aperta. Caminha-se de olhos no ar, como todos os olhos que se sentem estranhos. Um louco denuncia os forasteiros: “É por ali! É por ali!” E de facto era por ali. São horas de almoço. Anda-se, normalmente cumpre-se as ordens dos semáforos. Os olhares não precisam de se tocar, está-se numa grande cidade, local onde as pessoas sabem perfeitamente a função que têm de cumprir. Sozinhas. Está-se na grande cidade que atrai Portugal como um íman. Está-se por dentro do movimento aparente de haver um sentido nas ruas que sobem e descem as colinas em direcção ao Tejo. Mas não há sentido. Anda-se, cumpre-se a vida onde se promete que a vida pode ser melhor.

domingo, fonte santa

Entra-se pela Serra de Monchique, percorre-se um longo caminho por entre montes despidos, ribeiras secas e vestígios de incêndios. De quando em quando há casas velhas que se infiltram na paisagem, muitas delas decrépitas ou dissimuladas pela vegetação e pelo tempo (que é também uma espécie de vegetação). Encontra-se uma estrada estreitíssima que entra pelos montes e acompanha um inesperado fio verde. A estrada não acaba tão cedo mas decide-se ir a pé, acompanhando o pequeno ribeiro que corre fresco sob a sombra das árvores. A caminhada é longa e a certa altura íngreme. Ninguém, nenhum ruído estranho ao lugar. Pequenas cascatas. Terra húmida sob os pés.
Águas termais com diferentes sabores e temperaturas. Mais casas abandonadas onde antes se bailava e se vendiam sandes de presunto e copos de medronho. A presença secreta de familiares. Um lugar de recolhimento, por enquanto – há estacas no chão que indiciam a vontade que o homem tem de conquistar a natureza.

quinta-feira, setembro 29, 2005

agua em pó enquanto a líquida escasseia

Ainda não percebi para onde nos levará este líder, mas entretanto ele vai espalhando o bom humor portimonense pela net.

os ventos do sul nos próximos dias

http://www.windguru.cz/int/index.php
Para amantes do mar e do vento. É favor ir aos "spots" e escolher.

objectos técnicos

A relação que o homem mantém com os objectos técnicos é sem dúvida problemática e paradoxal. Por um lado toda a facilidade e utilidade de um mundo que de repente se torna mais simples, por outro lado toda a desconfiança e todo o medo da corrupção do humano. Mas tudo isto surge do facto dos objectos técnicos porem a nu a própria finitude do homem, esse ser que precisa de próteses, de máquinas, de tecnologia, de comunicação. Esse ser que se alimenta da fragilidade e da vulnerabilidade dos outros, usando os objectos técnicos como formas de imposição ou disseminação de poder. E lembro-me constantemente de um ícone kubrickiano (2001: Odisseia no Espaço): um primata que descobre num osso o poder de um objecto técnico, que não por acaso se cruza com a morte e a instauração de elementos "mundanos" - que se tornam parte do mundo. E a celebração de tudo isso, como um ultrapassar da sua própria condição.