levante

textos sem sentido e outros

domingo, agosto 28, 2005

ser

Para onde voará a borboleta da noite quando as luzes se apagarem e o ecrã for cedendo o lugar à escuridão?

ser

A borboleta da noite entra pela casa e rodopia, rasgando a luz que envolve a lâmpada acesa. Pousa sobre o ecrã. Permanece. Existe.

terça-feira, agosto 09, 2005

a luz em agosto

Comecei pel'O Som e a Fúria, que, apesar de exigente, foi desconcertante o suficiente para figurar na lista dos favoritos. Prossigo pela luz, em Agosto, neste canto do país que se presta à sonância dos títulos mas que fustiga de dissonância as férias tranquilas do espírito humano.

segunda-feira, agosto 08, 2005

o homem do futuro VII

O João chamou Nietzsche ao barulho. E porque não? E porque não reafirmar um niilismo de princípio, que seja a base de qualquer construção humana? (Nos dias de desagravo dou por mim a pensar que o niilismo, bem espremido, é uma fonte de criações infinitas...) O eterno retorno é a impossibilidade do fim dos tempos, de um "reino dos fins" que fundamente a universalidade da razão e da acção. O que, em termos teóricos, não me causa grandes dúvidas ou inquietações.
O problema de tudo isto dá-se sobretudo quando queremos levar o niilismo e o eterno retorno às suas "últimas inconsequências". Que eles sejam a base das nossas construções, tudo bem, que compreendamos os passos humanos como passos em veredas pantanosas, óptimo. Mas as casas não se fazem só com alicerces, pois há vento e chuva que fustigam os dias e noites dos homens que procuram habitar. E sem telhados não há habitação possível. Os telhados são uma aposta, são uma afirmação de poder - da razão, da racionalidade argumentativa, do diálogo, da força, da geopolítica, do medo, da esteticização do mundo e das relações humanas... É só escolher. Dir-me-ás que coloco tudo ao mesmo nível... mas reconheço que há telhas mais resistentes que outras.
Escolhemos telhados, traimos o nada porque queremos habitar um mundo que é inóspito e nos exige abrigo e trabalho.
Mas, para o homem do futuro, o universal será um fruto tardio da ingenuidade histórica. Os Direitos do Homem serão uma relíquia a exibir no museu da política pré-histórica. O individualismo da idolatria pragmática cultivará o concreto, por oposição à metafísica e à abstracção da cultura. O corpo será sacralizado (idolatrado), e assim se evitará, legalmente, a sua exploração genética.
E (sim) haverá um controlo superior que, encapotado de sentido, fará as vezes da universalidade pré-histórica. Os ídolos serão telhados que ocultarão o poder que os move.