o homem do futuro VII
O João chamou Nietzsche ao barulho. E porque não? E porque não reafirmar um niilismo de princípio, que seja a base de qualquer construção humana? (Nos dias de desagravo dou por mim a pensar que o niilismo, bem espremido, é uma fonte de criações infinitas...) O eterno retorno é a impossibilidade do fim dos tempos, de um "reino dos fins" que fundamente a universalidade da razão e da acção. O que, em termos teóricos, não me causa grandes dúvidas ou inquietações.
O problema de tudo isto dá-se sobretudo quando queremos levar o niilismo e o eterno retorno às suas "últimas inconsequências". Que eles sejam a base das nossas construções, tudo bem, que compreendamos os passos humanos como passos em veredas pantanosas, óptimo. Mas as casas não se fazem só com alicerces, pois há vento e chuva que fustigam os dias e noites dos homens que procuram habitar. E sem telhados não há habitação possível. Os telhados são uma aposta, são uma afirmação de poder - da razão, da racionalidade argumentativa, do diálogo, da força, da geopolítica, do medo, da esteticização do mundo e das relações humanas... É só escolher. Dir-me-ás que coloco tudo ao mesmo nível... mas reconheço que há telhas mais resistentes que outras.
Escolhemos telhados, traimos o nada porque queremos habitar um mundo que é inóspito e nos exige abrigo e trabalho.
Mas, para o homem do futuro, o universal será um fruto tardio da ingenuidade histórica. Os Direitos do Homem serão uma relíquia a exibir no museu da política pré-histórica. O individualismo da idolatria pragmática cultivará o concreto, por oposição à metafísica e à abstracção da cultura. O corpo será sacralizado (idolatrado), e assim se evitará, legalmente, a sua exploração genética.
E (sim) haverá um controlo superior que, encapotado de sentido, fará as vezes da universalidade pré-histórica. Os ídolos serão telhados que ocultarão o poder que os move.
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