levante

textos sem sentido e outros

quarta-feira, novembro 30, 2005

humor fúnebre

Nos funerais o humor acerca-se das palavras como uma capa de verniz: refinado, denso, prestes a estalar, alinhado entre a vida e a morte. Só se pode sorrir, mas é como se todo o sentido coubesse dentro de um sorriso.

segunda-feira, novembro 28, 2005

é simples

Por vezes as ruas desta cidade têm lama.
Depois vem a noite e as pessoas dormem.
Por vezes as ruas desta cidade enchem-se de luzes.
Depois vem o natal e as luzes morrem.
Por vezes há sonhos e mar e promessas.
Depois vem a tempestade e os sonhos fogem.
Por vezes há vozes que se revezam.
Depois vem uma mulher e um homem.

quarta-feira, novembro 23, 2005

acuidade

Pela primeira vez desde há algumas semanas, amanhã não irei a Lisboa. Nada do choque de movimentos entre o Algarve outonal e a Lisboa de ponta, nada do fluir do mar de gente que quebra sobre as encostas das estradas como se quebrasse por uma praia rochosa, nenhuma necessidade de descanso, apenas a quebra de uma rotina.
A acuidade! É isso que não gostava de perder, mesmo que o cenário da minha vida se transformasse com a espuma dos dias. A acuidade, o poder de sentir renovadamente, por dentro dos sentidos e da pele, que o diferente é diferente.

com comentários

Ultimamente tenho sentido algo de semelhante. Mas além disso fiquei a pensar até que ponto a nossa existência é construída pela teia de palavras com que construímos as relações humanas, aquelas que subsistem para lá dos desencontros.