levante

textos sem sentido e outros

segunda-feira, dezembro 04, 2006

as mulheres de Coppola

Desde que vi o último filme de Sofia Coppola, Maria Antonieta, há uma ideia que me persegue e que se relaciona com o ser feminino. Os filmes de Sofia retratam normalmente qualquer coisa que os críticos identificam com a dificuldade de amadurecimento das mulheres, como se estas vivessem num limbo em que as circunstâncias se apoderam da sua vontade, como se vivessem uma vida que não existe, como se fossem apenas uma representação da melancolia. Mas existe mais, existe também um tratado sobre o sofrimento, o qual percorre, de diversas formas, os três filmes maiores da realizadora. O que é estranho é que o sofrimento das personagens seja extremamente leve, que os seus passos se façam sobre nuvens e o único risco seja a possibilidade da vertigem e do vazio. A morte, se a há, o sofrimento físico, se chega a aparecer, é apenas o adereço de uma angústia que corrói por dentro, uma moínha. O que se torna asfixiante, pois nunca chega a existir redenção. As próprias "virgens suicidas" parecem não morrer... O mistério feminino persiste.
Por contraposição, Lars Von Trier leva a violência sobre as mulheres a um nível diferente, mais físico e frontal, tornando visível o sofrimento. Não existe nelas melancolia e a pouca angústia terá a ver com a injustiça a que as personagens estão sujeitas ou com os sacrifícios a que são submetidas. São mulheres mais "religiosas", pois procuram ou são levadas à redenção. São mulheres pouco misteriosas mas feitas de matéria, pisando o chão e usando o corpo (o misterioso passado de "Nicole Kidman" em Dogville é completamente anulado pela sua vivência na cidade...)
Duas visões distintas sobre o ser feminino, que cada um de nós, à sua maneira, poderá aplicar ao masculino. Mas duas visões que dirão muito sobre os estereótipos e/ou os traços que definem os sexos.
E prometo que tão cedo não voltarei a escrever sobre mulheres, pelo menos desta forma.