levante

textos sem sentido e outros

sábado, abril 21, 2007

a blasfémia

Já lá vai o tempo em que ousava escrever ou dizer publicamente qualquer coisa sobre mulheres. Fi-lo uma vez neste blog, embora desde logo soubesse que devia ser a única.
É um exercício extremamente fútil e que pode adquirir contornos perigosos.
Há alguns dias, numa conversa em que algumas participavam, deixei-me entusiasmar pelo clima descontraído e disse mais ou menos a brincar que até conhecia qualquer coisa da psicologia feminina. A resposta foi fulminante:
“Ah sim, então e de que premissas partes?”
(com um sorriso irónico de quem, daí em diante, estaria disposta a demonstrar, se necessário pelos meios mais brutais, que eu havia pisado o risco)
Socorri-me de toda a retórica e safei-me com um esforçado:
“Parto da ausência de premissas.”
(resposta que aliviou a tensão suscitada pela blasfémia e me levou a pensar melhor nas palavras durante o resto da noite)
E sem querer, pela primeira vez desde há muito tempo, percebi que (não) sabia alguma coisa. Assim como quem sabe que o infinito humano deixa de o ser a partir do momento em que o determinamos. Ou que há coisas que pura e simplesmente nos escapam pelas frinchas da razão.