Portugal-Suomi
Dia 19 regresso à Finlândia, provavelmente um dos países mais enigmáticos da Europa. Sei que tem havido alguma falta de neve, o que já levou o barbudo da Coca-Cola a adiar alguns compromissos publicitários e turísticos. Sei também que há pouca luz natural por esta altura, razão pela qual terei mais dificuldades em preencher o preto-e-branco da memória falsa da fotografia.
Além de outros compromissos que não interessa estar para aqui a relatar, irei, segundo os meus interesses, estar mais atento à forma como os finlandeses gerem o silêncio. Ouvi no outro dia a brilhante ou inócua afirmação de que eles seriam os mais orientais da Europa, e isto dever-se-ia exactamente a uma peculiar relação com o silêncio, com uma certa necessidade de recolhimento, com o trabalho organizado e aplicado. No entanto, parece-me haver qualquer coisa de errado nesta lógica, algo que não se deixa explicar por conceitos históricos, geográficos e muito menos biológicos.
E o mais interessante é sempre verificar o que se esconde por detrás ou ao lado do silêncio: uma ideia de comunidade que consegue paradoxalmente ser cultivada junto da necessidade de isolamento e recolhimento (a qual não significa individualismo...), a calma dos gestos, a alma plácida dos lagos, as emoções reservadas, o sorriso simples e humilde que consegue substituir tantas palavras desnecessárias, a ausência de género linguístico, a ingenuidade do sangue (uma coisa difícil de explicar, que muitos mediterrânicos pensam não ter mas têm...), o contacto envergonhado, as angústias recalcadas, as angústias disfarçadas de ironia e sarcasmo, enfim, tudo isso que se vai perdendo em palavras.
Bem, espero não ter tempo nem vontade de actualizar o blogue.
Dia 19 regresso à Finlândia, provavelmente um dos países mais enigmáticos da Europa. Sei que tem havido alguma falta de neve, o que já levou o barbudo da Coca-Cola a adiar alguns compromissos publicitários e turísticos. Sei também que há pouca luz natural por esta altura, razão pela qual terei mais dificuldades em preencher o preto-e-branco da memória falsa da fotografia.
Além de outros compromissos que não interessa estar para aqui a relatar, irei, segundo os meus interesses, estar mais atento à forma como os finlandeses gerem o silêncio. Ouvi no outro dia a brilhante ou inócua afirmação de que eles seriam os mais orientais da Europa, e isto dever-se-ia exactamente a uma peculiar relação com o silêncio, com uma certa necessidade de recolhimento, com o trabalho organizado e aplicado. No entanto, parece-me haver qualquer coisa de errado nesta lógica, algo que não se deixa explicar por conceitos históricos, geográficos e muito menos biológicos.
E o mais interessante é sempre verificar o que se esconde por detrás ou ao lado do silêncio: uma ideia de comunidade que consegue paradoxalmente ser cultivada junto da necessidade de isolamento e recolhimento (a qual não significa individualismo...), a calma dos gestos, a alma plácida dos lagos, as emoções reservadas, o sorriso simples e humilde que consegue substituir tantas palavras desnecessárias, a ausência de género linguístico, a ingenuidade do sangue (uma coisa difícil de explicar, que muitos mediterrânicos pensam não ter mas têm...), o contacto envergonhado, as angústias recalcadas, as angústias disfarçadas de ironia e sarcasmo, enfim, tudo isso que se vai perdendo em palavras.
Bem, espero não ter tempo nem vontade de actualizar o blogue.