levante

textos sem sentido e outros

domingo, fevereiro 25, 2007

mar

sábado, fevereiro 24, 2007

como o surgir da noite ou o deslocamento do sol para baixo do horizonte rendilhado pelos prédios da periferia da cidade

sexta-feira, fevereiro 23, 2007

simplicidade

escrever coisas simples como o areal da praia e o pássaro caminhando pela linha de rebentação das ondas que eram grandes e o pássaro caminhando lesto passo curto e apressado parecendo brincar com as ondas que eram grandes na praia onde havia pessoas dentro e fora de água

sábado, fevereiro 17, 2007

estética do desaparecimento

Havia uma mulher (ou seria um homem?) que trabalhava junto da fronteira com Espanha, ali onde a fronteira é um rio. Ao subir ao terceiro andar do seu local de trabalho, o homem (ou a mulher) espreitava sempre pela janela, da qual conseguia ver o rio, a outra margem, a ponte. Num dia igual a tantos outros decidiu ir encher o depósito do carro ao outro lado, coisa banal e nada surpreendente se não estivesse assente numa mentira profunda. É que o depósito não estava vazio e nem o homem-mulher parou na primeira estação de serviço junto à fronteira. Algo o chamava, um canto de sereia, disseram alguns, mas o certo é que continuou a sua marcha inexorável pelas autoestradas. E nunca mais voltou. Até desaparecer da vista e da memória.

sábado, fevereiro 10, 2007

as conversas infinitas

Tenho à frente dos olhos a epígrafe do Ensaio sobre a Cegueira: "Se podes olhar, vê. Se podes ver, repara."
E a memória, que é uma excelente jogadora, distribui sobre o tabuleiro as peças de uma conversa inacabada, provavelmente infinita. Começara numa madrugada ébria, no primeiro dos cinco lances das escadas monumentais de Coimbra. Havia pessoas desfocadas e um portátil que sem porquês tocava jazz, como se rompesse a ordem natural do mundo.
Nunca cheguei a perceber quanto dessa conversa foi real, imaginária ou simplesmente etílica. Talvez tivesse um pouco de tudo, de tudo aquilo que por vezes cintila numa fulguração de sentido. O importante é que continuemos a reparar.

sábado, fevereiro 03, 2007

da falência dos dias

É tarde. O sol já não existe. Os vultos caminhantes parecem seres humanos que recolhem aos vultos que parecem carros. A humidade. As máquinas fotográficas já não encalham no crepúsculo de postal (o gosto é um conceito, por vezes uma virtude). É tarde. Emparedado entre a areia e o horizonte, o mar sufoca. A escuridão existe e é negra como a noite. As pessoas estrangeiras estranham o estado do tempo. E se chovesse? E se os minutos se estendessem pela praia, preguiçando sob o lento discorrer de uma tarde indecisa?