quarta-feira, novembro 29, 2006
domingo, novembro 26, 2006
mário
Nunca o conheci. Muita da sua obra, sobretudo a plástica, passa-me ao lado. Não vou sequer comover-me com falsas divagações sobre a morte. Mas algumas das palavras de Cesariny vivem dentro das minhas, dentro de mim. Pena Capital é um daqueles livros que se deve folhear com regularidade, é um desentorpecedor da imaginação, é um acelerador de partículas poéticas, é um tratado de subversão do real. É por tudo isto, e ainda pela irreverência e pela vida que quis viver, que uma pequena tristeza assola esta tarde de domingo.
quinta-feira, novembro 23, 2006
quarta-feira, novembro 22, 2006
sábado, novembro 18, 2006
das janelas
Todos os dias chove, mas ainda assim o homem que vê chover a partir da janela admira-se e exclama: Oh! Está a chover! Só depois de advertido acerca da banalidade de tal fenómeno percebe que o motivo da sua admiração não é a chuva, mas a janela por donde vê chover.
domingo, novembro 12, 2006
despertar
Os sonhos que se formam lucidamente no nosso despertar são refúgios dos dias e das dores, que só assim encontram maneira de dizer existo.
sexta-feira, novembro 10, 2006
os velhos e a tarde
Há quem prefira a luz-hora-de-café, na qual a azáfama ligeira da praça tem o brilho intenso do sol vertical. Pois eu prefiro o meio da tarde, quando os velhos saem da sesta, como para um fim de vida, com a simples vontade de preencher os dias. Sentam-se nos bancos e conversam sobre hospitais, mortos e moças novas. Alguns, sozinhos, esperam qualquer coisa que os resgate da monotonia, são os velhos inadaptados, os que atestam a inquietude humana e as quezílias da idade teimosa, são os que dizem "mais vale só do que mal acompanhado", são os que espreitam pelo canto do olho como crianças orgulhosas, tentando perceber os gestos dos outros, tentando demonstrar a sua indiferença, tentando levantar-se com a dignidade de um rei (ainda que os ossos das mãos se enrolem em torno do orgulho e não mais se consigam abrir). Mas a praça é o seu mundo e aquela hora da tarde é todo o seu dia, e por isso há velhos que morrem de rancor, outros há que abrem as mãos.
sábado, novembro 04, 2006
entre a tempestade e a bonança
Ontem, após a trovoada e o silêncio que esta impõe quando passa sobre as cabeças humanas, as ruas geométricas eram pequenos canais de água e os carros que passavam eram barcos a projectar ondas contra a costa dos passeios onde as pessoas procuravam o lugar menos fundo para atravessar.
Ontem, o comboio deslizava para poente como se procurasse um abrigo da tempestade, e não foi preciso muito tempo, talvez umas dez páginas de livro, para o encontrar verdejante e refulgente, com o céu azul e breves nuvens, com aquele tom de prata e cobre: o Outono.