levante

textos sem sentido e outros

sexta-feira, outubro 15, 2004

memória fraca

Lembras-te do silêncio que povoava as manhãs de Outono? Do vento que, lá fora, rodopiava em torno dos choupos, das bailarinas que voavam sobre as nossas cabeças, dos cães que latiam no cima da rua? Da estátua parada à espera da morte? Lembras-te dos sinos que entravam pelo quarto como um prenúncio de cerimónia, das roupas estendidas sobre o chão, dos pés que pisavam as roupas, dos passos que usavam os pés quando caminhavas perdido pela cidade? E do vinho bebido pelas mãos, da carne devorada em noites de lua, do mar que baixava ao sabor das marés? E ainda da areia presa na pele, do sorriso espelhado no céu das fotografias, da bola que saltava sobre o mundo como um planeta de cartolina? Lembras-te do tempo e das palavras entaladas na língua, da varanda em que cresciam as raízes da vida? Lembras-te?
Eu não.