levante

textos sem sentido e outros

sexta-feira, maio 18, 2007

o quisto e o cristo.

No Hospital de Jesus, no dia em que os crentes e os supersticiosos celebram a sua ascensão aos céus, há um homem de carne e osso que está deitado numa maca à espero que o corpo lhe seja perfurado por todos os intrumentos necessários à pureza (o conceito para dizer algo que não tem nada mais do que o que está definido metafisicamente como essencial para atingir o bem e a saúde supremos).
Mandam-lhe abrir os braços, espetam-lhe uma seringa com anestesia numa mão, espetam-lhe uma intravenosa para o soro na outra. Faz uma piada evitável acerca de Cristo e só depois, após uns risos tímidos das mulheres de bata e máscara que o rodeiam, repara no crucifixo que o observa da parede. Uma dessas mulheres agarra-lhe num tornozelo e envolve-o com uma tira de tecido que aperta porque é essa a sua função. Há que medir a tensão. Há que manter as pernas quietas, como se pregadas à maca. Uma outra mulher de bata e máscara (ou a mesma) aproxima-se do fundo da sala, empunhando alguns fios com ventosas. E enquanto lhe espeta a primeira ventosa no peito, aproxima os lábios do seu ouvido e sussurra-lhe "ora vamos lá ver como está esse coração".