levante

textos sem sentido e outros

domingo, janeiro 28, 2007

mineiro

Escavar por dentro dos conceitos não é escrever palavras. Nos interstícios do sentido, antes que as palavras se refiram às coisas e antes que as coisas apareçam na plenitude da existência, visíveis, imponentes, há um homem que escava, de picareta na mão e lâmpada no capacete. E isto diz tudo sobre as condições da linguagem: há um trabalho incessante e invisível, um trabalho no interior da terra (ou no cérebro, ou no corpo) que envolve o conceito no seu dinamismo. Por exemplo: escrevo a palavra vida e há um conceito que trabalha por dentro dela e que liberta uma multiplicidade de sentidos; o conceito é de difícil fixação pois é extremamente abrangente. Escrevo a palavra quadrado e o conceito fixa-se imediatamente. Toda a história linguisticamente descritível da humanidade resume-se a este jogo. Assim deus, assim morte, assim amor, assim livro, assim estante, assim copo, etc. Em infinitas variações e articulações. Um jogo onde a filosofia se sente em casa porque é ela que lhe descobre as regras. A literatura não se sente em casa pois não procura a clareza das regras, mas sim o turbilhão, o dinamismo onde o sentido é mais vivo, e aí há sempre deconforto.
As condições da visibilidade colocam outros problemas, outro tipo de escavação.