levante

textos sem sentido e outros

domingo, outubro 22, 2006

a vida secreta da fotografia

Freud defende a existência de duas pulsões fundamentais: eros e thanathos, a pulsão da conservação da vida e a pulsão da morte.
A dada altura da sua reflexão em Câmara Clara, Barthes descobre que seria preciso interrogar a evidência da fotografia, não do ponto de vista do prazer, mas em relação com aquilo a que romanticamente se chamaria o amor e a morte. A primeira vez que descobri esta descoberta achei-a elegante mas não lhe percebi o sentido mais profundo.
Talvez hoje, porque é domingo: cada fotografia é simultaneamente um rasgo de vida e um rasgo de morte. Cada fotografia é um campo de batalha onde a esgrima do tempo com o homem alcança uma subtileza nem sempre perceptível aos olhos mais descuidados. Cada vida é um conjunto de fotografias, mas isso não acontece, como ingenuamente se pensa, pelo facto de a vida ser um álbum de recordações que tece a narrativa que lhe dá o sentido, mas porque a cada momento, a cada acontecimento, a cada instante fugaz, é o próprio amor e a própria morte que gemem por dentro do tempo, por vezes em surdina, por vezes em estridência. Para lá do prazer.