levante

textos sem sentido e outros

sábado, outubro 07, 2006

uma baixa pombalina

A praça inclina-se com a tarde e as sombras tornam-se imensas, tocando as ruas geométricas de uma ponta à outra. Há pessoas sem dúvida, e também cães-preguiça espraiados nas ruas geométricas. O sol quase horizontal é de uma violência atómica para os olhos incautos. E há reflexos no chão, nas montras, nas retinas de quem passa. O rosto contorce-se, o corpo procura sombras, o calor venceu as estações e não se sabe já se Verão ou Outono. As vozes são castelhanas. As castanhas aguardam o tempo propício, exibindo vendedores impacientes que se agarram às folhas de jornal porque é essa a sua função e o seu destino. As ruas são geométricas porque a terra é instável e os homens travam uma batalha incessante para vencer a complexidade dos passos. As ruas aguardam a noite. As mulheres aguardam a menstruação. Os homens aguardam o preenchimento do tempo. As cidades guardam memórias. E a memória são pequenas setas que se entranham na pele dos amantes e dos caminhantes, pequenos rasgos de luz que invadem os olhos e as tardes inclinadas pelo sol.