levante

textos sem sentido e outros

domingo, setembro 03, 2006

teatro II - para uma estética da aviação humana

Só quem plana sobre o mundo tem acesso a uma visão clara e distinta das suas estruturas. No entanto, este permanecer à superfície não consegue dar conta da profundidade com que a vida insiste em fazer-se sentir. Ela está lá, mas mascarada de palavras que o actor lê, utiliza, decora, analisa, esquece. As grandes questões (enunciadas e não enunciadas) da vida, que cada um tem de conceber à sua própria maneira, mascaram-se de palavras e permanecem como aquilo que há em nós de mais humano. As palavras mascaram-se de silêncio, e é neste golpe inesperado, nesta suspensão da palavra que todo o teatro se joga. As palavras estão lá para dizer que fica sempre algo por dizer. É assim que o teatro e a vida são profundos e insondáveis. Mas o actor tem de planar sobre o mundo para que a sua vida não se confunda com o seu papel.