levante

textos sem sentido e outros

sábado, setembro 16, 2006

luz embriagada

A manhã acorda embriagada de luz. Os olhos são cortinas trespassadas pela imensidão das horas que se acumulam nas retinas como imagens num ecrã de cinema. Quase todas falsas, as imagens, as retinas, as manhãs.
Algo se teceu pela escuridão da noite e tudo, mas mesmo tudo, foi engolido por um enorme buraco negro que suga tudo à sua volta. Por isso a luz que por vezes aparece na aurora dos dias é uma ilusão como todas as ilusões bem montadas: acorda-se e lava-se a cara, do espelho saem rostos conhecidos (as variações do mesmo), esboços de ironia e razão, um murmúrio a roçar palavra.
Há que cumprir o estabelecido. Visitar a memória, dar alento os vícios do corpo, exercitar a morte para que a vida se cumpra com sentido.
E translúcido, reluzente, um homem há-de brilhar por dentro de tudo isto.