levante

textos sem sentido e outros

quarta-feira, junho 14, 2006

palavras viciadas e erradas

No post anterior existia uma gralha. Agora já não existe. Era um facto tipográfico que já não existe.
Os erros corrigem-se e nem sempre as suas marcas permanecem. Os erros são necessários ao bom funcionamento da atenção.
Um erro não é uma mentira nem uma falsidade. Por vezes, um erro é um facto que cria outros factos que dão origem a uma nova ordem de acontecimentos.
Mas normalmente os erros apagam-se, ou pelo menos nós tentamos apagá-los. Os erros que não se conseguem apagar penetram a memória como uma falha, ou melhor, permanecem no seu interior como um abismo, no sem fundo a que Freud foi buscar o inconsciente.
Há toda uma terapia do erro que faz parte do crescimento humano e da saúde. Lidar com o erro é um exercício a estimular.
O erro é sempre um forma de iluminar a perspectiva com que talhamos o mundo. Dizemos "isto é um erro" e das nossas palavras transparecem intenções.
A memória selecciona os erros que se devem conservar, mas a memória faz parte do abismo, e portanto os erros permanecem ocultos. Há erros que conduzem ao ressentimento, um sinal de má saúde. Tendencialmente, o ressentimento é uma violência sobre si próprio. O ressentimento exteriorizado é uma violência contra os outros. O ressentimento violento pode aparecer de várias formas: o silêncio, o choro, o genocídio. Todas essas formas aparecem como uma tentativa de resolver um erro que já não se localiza facilmente.
Os erros não resolvidos tendem a permanecer ocultos e constituem um alimento para o ressentimento, tomando parte da erótica da violência. Os erros morais não resolvidos (de que o exemplo mais flagrante é o pecado original) dão origem a ressentimentos morais, à má consciência. Paradoxalmente, a consciência é um óptimo condutor da violência, a qual nunca poderá deixar de estar relacionada com o sexo.
Ressentimento, violência e consciência formam a trilogia do erro moral. Enquanto impulso e forma de movimento, o sexo é o motor dessa trilogia. O sexo é o motor de muitas outras trilogias, mas o erro moral jamais poderá subsistir sem a condenação do sexo, que deverá produzir ressentimento e inibir os fluxos. O erro é uma forma de controlo social.