levante

textos sem sentido e outros

quinta-feira, fevereiro 16, 2006

a domesticação do mar

Os conhecimentos científicos e os meios técnicos evoluíram de tal forma que, actualmente, é possível saber-se, com algum grau de certeza, quais serão as condições do mar à distância de uma semana. Daí que já todos os interessados saibam que o mar vai subir neste fim-de-semana, podendo as ondas atingir a altura de cinco metros na costa sul algarvia. Além disso, e também com um elevado grau de certeza, é possível prever a velocidade e a frequência da ondulação, a sua direcção, as horas em que estará mais forte, os ventos que a acompanham, o estado do tempo, etc.
Há alguns anos atrás, quando a internet era um conceito distante e os boletins meteorológicos da televisão davam primazia à desenvoltura e empatia dos meteorologistas, as coisas passavam-se de forma bem diferente. Raros eram os dias em que o mar não me surpreendia. Chegado à praia, os meus sentidos apalpavam a costa, numa profusão de sons e cheiros e vagas que invadiam a areia e as rochas. Tudo isto e a adrenalina a treparem pelas paredes do meu corpo. As ondulações apareciam como que de um vazio, carregadas de uma força mágica e telúrica em que água, terra e homens formavam uma massa indistinta, trespassada de energias inesperadas e misteriosas. É claro que havia os indícios: as tempestades nos Açores que demoravam dois dias a chegar; a calmaria do levante que sufocava a pele; as marés vivas de Agosto; a lua cheia; as clássicas gaivotas em terra; o vento sudoeste a soprar forte no final da tarde; o marulhar que se ouvia na varanda pela madrugada dos dias… É claro que havia e há tudo isto, mas algo entretanto está diferente.
A natureza? O que é a Natureza? Uma palavra para dizer os conceitos científicos que pretendem explicar os mecanismos de funcionamento do mundo? Ou uma palavra para dizer o mistério da relação do homem com as forças que o envolvem e que, ora o dominam, ora são por ele dominadas?...

1 Comments:

  • At 9:34 da tarde, Anonymous Anónimo said…

    Tira-se a expectativa e a incerteza, perde-se a magia. É como tantas outras coisas.

     

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