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textos sem sentido e outros

sexta-feira, julho 22, 2005

o homem do futuro III

Comunicando com o futuro.
Sim, é preciso mudar já.
Mas como? Para onde? Por onde devemos começar a transformar o homem? É de uma transformação que se trata? É de uma recuperação da autenticidade? É de um regresso às origens? É da valorização da existência individual?
A exterioridade absoluta, ainda que concebida como utopia, como extensão do humano que se leva a si próprio ao limite, é de facto assustadora, mas o homem do futuro não terá medo nem angústia, a sua vida será um consumo constante, alimentado por substâncias psicotrópicas e por objectos virtuais (sendo que todo o virtual é de alguma forma uma reactualização do real -- e vice-versa). Nas universidades passará a existir uma faculdade do desejo, dedicada ao estudo do consumo e à sua satisfação.
A perversidade da comunicação, sobretudo nos moldes em que é concebida actualmente, poderá estar relacionada com um paradoxo de difícil identificação fenomenológica, ao qual associo duas concepções que nem sempre são conciliáveis: por um lado, a fugacidade e vacuidade da comunicação, com tudo o que isto implica de reformulação das nossas categorias de tempo, espaço e verdade; embrenhado nesse movimento pelo movimento, caberá ao homem do futuro mover-se por mover-se, como uma espécie de força gravitacional misteriosa e sem centro. Por outro lado, e aqui começam os meus problemas, a nossa época é também uma das mais "fixas". Usada e abusada que foi a "civilização das imagens" como explicação de todos os males do mundo, temos por vezes dificuldade em pensar as categorias ontológicas que subjazem à imagem e sua disseminação planetária. O homem do futuro seguirá imagens e modelos de ser, ou seja, será segundo modos estabelecidos, adequados e verdadeiros. Portanto, aquilo que aos nossos olhos pode parecer um dificuldade teórica de conciliação entre movimento e fixidez, será para o homem do futuro a consumação da sua própria existência, o sentido para lá do sentido: mover-se na certeza e na segurança.

1 Comments:

  • At 1:03 da manhã, Anonymous Anónimo said…

    Um aquem e um alem transcendental,como uma porta aberta/fechada ao mesmo tempo;o sentido para além do sentido.O lugar do homem é indubitavelmente o não-lugar,u-topos, como afirmava
    Platão,(no Monte Olimpo),no transcendente mundo superior da alma e tudo mudou...o homem vai ainda para onde?...Perdo-a Platão.
    Um abração grande Nélio.

     

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