levante

textos sem sentido e outros

domingo, setembro 26, 2004

um adeus algarvio

E assim somos nós, sempre a chegar: como se na franja dos nossos olhos, onde só parece haver retinas de objectos retalhados, não houvesse ainda e sempre o renovar das noites tranquilas, o aconchego de um corpo quente - que duram pouco, como tudo o que pouco dura.
O problema é o quando, é o porquê, são as memórias que rodopiam à volta de um mastro de volúpia sensorial. E assim somos nós, sempre a querer de novo o novo, sempre a matar a morte, sempre a viver a vida. Com rostos de luz e olhos de céu, com mãos em torno dos membros e palavras a acariciar a pele.
E apetece-me por vezes, por não saber a quem falar, apetece-me por vezes estar calado e engolir palavras, digerir os receios, dar a este estômago frágil o alimento indegesto que turva de sonhos a lucidez do espírito(-santos são os deuses que caem dos céus e chegam à terra como todos nós e se tornam homens e sangram e morrem).
E assim sou eu, confesso. Ainda ontem cheguei a esta terra de mar e cheiro de mar, ferindo de azul a solidão, e já amanhã, de novo, chegarei a outra terra, onde os silêncios se escondem nas serras de verde escondido.
Ou talvez assim sejamos, sempre a partir.