levante

textos sem sentido e outros

domingo, agosto 01, 2004

incêndio no quiosque

O que me irrita nos incêndios é ir ao quiosque e o Sr. Zé, que todos os dias me vende o jornal, não saber explicar as suas causas. Tenho-o encontrado na habitual indignação, inquirindo todos os que passam, avançando hipóteses mirabolantes, contando histórias de um passado em que isto não existia.
- Da minha parte pouco tenho a dizer Sr. Zé, no ano passado havia a avioneta que largava bolas de fogo, este ano já se fala de interesses imobiliários e vinganças, para o ano será a vez de um dragão fumegante, provavelmente fugido do seu estádio no Porto, a servir de expiação dos nossos pecados.
Mas o que me irrita mesmo é ir ao quiosque e nada. E o Sr. Zé costuma falar com todo o tipo de gente, desde a que compra o "Expresso" àquela que se deslumbra com o "24 Horas", cada uma com a sua sabedoria. Mas nada, o Sr. Zé não consegue, não arrisca fazer uma síntese dos argumentos, é tudo muito complexo.
- Eu diria mesmo absurdo, Sr. Zé!
Quando o sporting perde há sempre o árbitro e o sistema, ou seja, as coisas ganham uma lógica incontornável; mas agora tudo se esvai em conjecturas e discursos politicamente correctos, para não se dizer que não se diz nada, para não se reconhecer o antiquíssimo abandono do interior algarvio (e não só...), para evitar referir que tudo isto é o espelho de Portugal, da impotência administrativa e judicial face aos interesses privados. Pois que ardam as florestas e se comprem submarinos. Os algarvios, que são povo de brandos costumes, habituados ao bem-receber das elites políticas e intelectuais que se vêm espojar nas suas praias, agradecem!
Ficamos com o absurdo da situação.