levante

textos sem sentido e outros

domingo, janeiro 04, 2004

Diário ficcionado de um algarvio longe do levante
20/12

Cansaço. O estômago traído pela comida dos aviões.
Saio de casa às 3 da tarde e é quase noite escura.
O vento corre rasante pelos corredores da cidade, pelas margens dos prédios do bairro – arquitectura "jungen" da primeira metade do século, cores de Outono, limpeza. O vento frio infiltra-se no hábito, corrompe o calor do sul que me vinha diluído no sangue. Preciso de um cachecol.
No supermercado as mesmas embalagens e marcas desconhecidas que havia encontrado no Verão. Escolho uma ao acaso mas nenhuma das descrições, escritas em finlandês e sueco, as duas línguas oficiais, me permitem perceber exactamente o que tenho na mão.
Antes de regressarmos a casa passamos por um café-restaurante-teatro. Sou aconselhado a comer batata com recheio de rena, um prato típico de Natal. Relutantemente lá acedo em experimentar a carne do simpático animal que puxa o trenó do barbudo, mas por obra do acaso ou por ser realmente uma iguaria da época o prato já tinha esgotado. Mas a galinha está boa...
Como ao lado de uma foto de Peter Brooke, que por ali havia passado há uns anos. Acho que já tinha ouvido alguém falar da importância deste senhor para o teatro contemporâneo. Não sabia que era careca.
Em casa, pela noite dentro, acompanhado de vinho quente e visitas locais, o meu inglês vai-se desentorpecendo e eu vou tendo dificuldades em dizer exactamente aquilo que quero dizer.
“Saturday night”. Há gente jovem a circular pelas ruas, dentro dos bares, à porta dos clubes e bares que exigem vistoria de entrada.
A cerveja de meio litro perde logo a força mas vai-se bebendo até ao fim. Não tem a mesma vivacidade da portuguesa, embora ao seu modo seja boa.
Amanhã partimos para a Estónia. Amanhã vai fazer frio. Amanhã vai nevar.