levante

textos sem sentido e outros

terça-feira, novembro 04, 2003

A tecnologia tem destas coisas. Não sabemos muito bem as obscuras razões que nela trabalham, e de repente falha-nos, como se de um ser com vontade própria se tratasse. Habituados à rigidez da ciência e suas aplicações técnicas, sabemos que o problema será nosso ou do sistema. Jamais os computadores falham, jamais têm erros próprios, jamais não existe uma justificação. E, no entanto, reconheço, falham-me tantas justificações neste mundo cibernético.
Vem isto a propósito de uma tentativa gorada de apagar, de fazer um "delete" (que não é bem a mesma coisa que apagar... E anda por aí pessoal que até chega a ter crises "deleteais"!) do meu penúltimo post, onde não sei por que carga de água falei na loucura e, ainda por cima, tendo usado um "de facto" para a caracterizar ("A loucura, de facto, é não sabermos controlar a razão e pensarmos que a controlamos"). Ora, se a loucura se deixasse resumir nesta eloquente frase, então os psicólogos, psiquiatras, e seus amigos anseolíticos e afins, jamais precisariam de entrar em acção.
Reli o post e senti que tinha de apagar o "de facto", substituindo-o por algo mais suave e menos determinista. Escolhi o "afinal", conector mais conclusivo mas infinitamente menos científico. Palavra de descoberta e surpresa, de um campo aberto a novas formulações. Mas em vez de modificar o post acabei por criar um outro. Verificado o erro, tentei apagar o post anterior. E é aí que começam a trabalhar as obscuras razões da bloggosfera. Não é que a magana se recusou apagar, desculpem, a "deletar". Pudera, o "de facto" é seu tetravô...
Bem, esta recusa até foi positivamente interessante. Revelou que a blogosfera gosta dos "de factos", expressão que serve bem os propósitos da tecno-ciência e da certeza racional (e felizmente existem alguns bloggonautas que conseguem contrariar esta tendência, que não é apenas virtual mas também social e cultural). Permitiu-me, por outro lado, fazer esta divagação despropositada.